segunda-feira, abril 06, 2009

Era uma vez...


Adoro contos que iniciam com "Era uma vez...". Eles costumam ter finais felizes.
Então vamos lá...

Era uma vez um Rei que vivia num reino distante.

Solteiro, ainda não havia encontrado sua alma gêmea. Mas não pensem que ele vivia infeliz por causa disso. Muito pelo contrário. A fama do rei era de ser muito namorador. Não perdia um baile.

Em volta do seu castelo existiam várias áreas de plantio que eram cultivadas pelos seus servos.

A produção agrícola no reino era fantástica o que levou o Rei a decidir pela comercialização dos produtos excedentes na cidade.

Estabeleceu-se então, ao redor da praça, bem pertinho da Igreja, onde aconteciam as grandes feiras de produtos agrícolas.

Era uma lojinha muito pequena, muito amontoada de coisas, como a grande maioria.

Para auxiliá-lo na loja do reino, o Rei contratou uma linda e delicada jovem. Era de uma delicadeza inigualável.Qualidade essencial para a função.

Logo Antonieta, a jovem donzela, tornou-se o braço direito do Rei.

E foram tomados por uma paixão. Mas o rei sabia que ela nao se adaptaria ao seu mundo. Sem falar que, nesse tempo, a situação das mulheres era muito precária.

Essa paixão estimulava a jovem donzela a se dedicar cada dia mais ao estabelecimento real. Cuidando como se fosse seu, e o Rei, envolvido com outras tantas ações até mesmo mais importantes, sem outra opção, ia permitindo que ela organizasse a seu modo.

E ia colocando imagens aqui, jarros com flores ali, pintou de ocre a fachada, enfim, as mercadorias se misturavam de forma confusa com a decoração.

Antonieta cuidava de tudo com tanto esmero e carinho que ja nao se sabia onde terminava a loja do reino e onde começava a sua loja. Todos conheciam o pequeno estabelecimento como Loja da Antonieta.

Um belo dia o rei quis expandir seus domínios. Alcançar outras praças com seu excedente de produção.

Assim como seus primos em outros reinos, quis fazer daquela lojinha um próspero negócio. Pelo negócio e pelo dinheiro.

Pensou em fabricar roupa, tapeçarias e louça.

Queria montar uma oficina do reino. Como negócio que pretendia ser, tinha que se profissionalizar. Promover uma verdadeira revolução nos moldes definidos informalmente por Antonieta.

Antonieta, ainda presa por laços de dependência emocional ao seu senhor, via nesse novo projeto uma miragem de liberdade e a promessa de uma vida melhor. Ao mesmo tempo, seu coração mostrava sinais de cansaço, pois percebia que o Rei, embora nutrisse um enorme carinho por ela, jamais a tomaria em casamento. Nunca tinha nem mesmo a levado ao Castelo para conhecer seu jardim. Como era belo o jardim do castelo!

Mas Antonieta tinha inúmeros admiradores pela praça. Nunca havia se dado conta de quantos, até que começou a se render aos convites de alguns deles. E a lojinha passou a ser uma mistura de ponto de encontro e também de comércio para Antonieta.

Percebia que seu coração poderia um dia se libertar da enorme paixão que sentia pelo Rei. Ela só tinha que dar a oportunidade para que isso acontecesse.

Enquanto isso, o Rei falava de seus planos e projetos projetos aos seus servos e, lógico, também para Antonieta. Era um rei muito justo e popular. Severo quando tinha que ser severo, mas justo. Querido por todos.

Implementar esses projetos não seria fácil e ele sabia que não faria com a pequena estrutura que possuía. As novas instalações não poderiam ter o carater lúdico que a pequena lojinha tinha. Tinham que passar confiança aos futuros clientes. Muitas das mercadorias que ele pretendia comercializar dependiam de encomendas para entregas futuras. Deveria acontecer um pacto de confiança entre o cliente e a oficina.

Com a situação de Antonieta ja estabelecida ficou muito difícil para o rei impor novas regras para as futuras instalações. Ele tentou, mas nao conseguiu expandir tanto quanto pretendia. Embora tivesse potencial.

Isso aconteceu na Idade Média, mas contam que até os dias atuais, gerações e gerações posteriores não conseguiram tirar o estigma em torno da atividade comercial da nobre família.

Será para sempre filial da lojinha da Antonieta. Ponto de venda de quinquilharias e ponto de encontro social.

Uma pena. O Rei tinha tão nobres intenções.

Também não foi culpa de Antonieta. Tudo que ela fazia era com a melhor das intenções. Com o maior carinho.

O que faltou, então?

Ninguém sabe.

Antonieta casou-se com um nobre norueguês que a pediu, por ciúmes, que abandonasse a vida na praça e com quem constituiu uma linda família. Em tempos de páscoa contam que ela cozinhava delicados pratos a base de bacalhau.

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